A HISTÓRIA DO POÇO - Dep. Marco Aurélio

4/12/2012

A HISTÓRIA DO POÇO

Essa é uma clássica história que aconteceu comigo, no ano de 1996, quando morava em Goianésia do Pará. Talvez você já tenha ouvido essa História. Foi o dia da minha vida que eu mais passei medo, mas também pude tirar grandes lições.

1996. Ano de eleições municipais. Eu trabalhava dando aula de reforço em um turno e com as eleições, decidi ser pintor para aumentar a renda um pouco. Aprendi o básico e peguei alguns painéis eleitorais de alguns candidatos e comecei a trabalhar.

Certo dia, quando caminhava em uma rua na periferia da cidade, juntamente com o Josué, um amigo meu que me ajudava, saiu de uma casa uma mulher correndo, chorando e gritando:

-Meu Deus, meu filho morreu, meu filho morreu!

Gritava em grande desespero.

Caminhamos alguns metros e observamos ao redor de um poço, cerca de uma dezena de pessoas. Perguntei a elas o que havia acontecido e elas disseram que o filho daquela mulher havia caído dentro do poço e talvez estivesse morto. Perguntei:

-Há quanto tempo ele caiu?

Responderam que haviam alguns segundos, minuto talvez. Tornei a perguntar:

-Alguém já desceu?

Para a minha surpresa, ninguém havia descido para resgatar o menino, que tinha cerca de 5 anos de idade.

As pessoas não desceram porque em poço é muito comum faltar oxigênio, o que o povo diz que o poço tem gás, e quando a pessoa desce há risco de morrer. Eu, porém, não me dispus a descer porque o meu medo era maior que o medo de gás. Eu tinha medo de pessoas mortas. Eu era incapaz de ir a um velório.

Não tocava em uma pessoa morta, ainda que fosse uma criança. Foi quando tentei incentivar alguém a descer:

-Gente, alguém tem que descer, o menino vai morrer. Alguém desce!

Falei, mas inutilmente. Ninguém desceu.

Fiquei por alguns segundos no dilema de descer e o menino estar morto, como subir com o garoto morto em meus braços? Do outro lado, se o menino morresse, a culpa seria minha, pela omissão. Foi quando me escapuliu:

-Tá bom. Eu desço!

As pessoas falaram:

-O rapaz vai descer.

Mas esta foi uma daquelas coisas que a gente fala e se arrepende na mesma hora. Mas estava falado.
Já estava preparado, quando peguei na gangorra do poço e percebi que estava quebrada. Fui até a casa de um vizinho pra buscar um martelo e pregos, até mesmo na esperança de voltar e alguém já ter descido. Que nada! Todos continuavam a me esperar.

Quando já ia bater os pregos na gangorra, dois homens falaram:

-Não precisa, como tu é muito magro, a gente segura a corda é na mão mesmo!

Tá bom. E assim desci. Desci com um medo tão grande, orando a Deus para que o menino estivesse vivo. Cada metro que descia, o medo aumentava e as orações também. O menino não poderia estar morto.

Finalmente, cheguei lá em baixo, toquei os pés na água e já iria soltar a corda para mergulhar e procurar resgatar o menino, que depois de uns dois ou três minutos, talvez estivesse morto, o pessoal gritou:

-Olha o menino aqui em cima!

Isso mesmo! Tá sorrindo, né? Mas lá estava o danado do menino. Lá em cima.

E você deve estar se perguntando como o menino havia subido?

A verdade é que ele nem desceu. A mãe dele tinha problemas mentais e colocava aquela criança de uns cinco anos pra puxar água no poço com um balde grande, desses de 18 litros. Em determinado momento, o balde soltou da corda e caiu na água. Ao ouvir o barulho, a mãe pensou que era o filho, e o moleque, com medo de levar uma surra, se escondeu na casa da vizinha.

No meio dessa História toda, tirei duas grandes lições:

A primeira, é que só conseguiremos fazer algo grande, se vencermos o nosso medo. Aquilo que nos impede de prosseguir, que nos limita, que nos trava. Precisamos vencer o nosso medo. Abraham Lincoln, ex-presidente americano, dizia: “A única coisa que devemos temer é o nosso próprio medo”.

A outra lição que tirei, diz respeito ao reconhecimento. Eu esperava chegar lá em cima e ser aplaudido, talvez até chamado de herói, mas quando cheguei lá, só os dois homens que puxaram a corda estavam me aguardando. Eu havia vencido o meu medo, tinha sido o único com coragem para descer, e todo o meu esforço passou despercebido. Lembrei de palavras como: “Melhor do que receber honras é merecê-las” e ainda: “Não espere que as pessoas reconheçam as suas atitudes, o sol, ao nascer, dá um show de espetáculo, enquanto a maioria da platéia se encontra dormindo.

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